Lilith, originalmente um espírito dos ventos hostis na Penísula Arábica, se tornou uma devoradora de crianças, um súcubo e finalmente uma Rainha dos vampiros. A Primeira mulher de Adão, segundo o ben Sira e uma rainha demoníaca e hostil, de acordo com o Zohar.
Lilith era um espírito estrangeiro e intruso; encantamentos eram feitos para afastá-la - e anjos eram enviados para pôr fim na procriação de seus lilins. Os mensageiros angelicais tiveram que fazer uma trégua e um acordo – ela estava aqui para ficar. Ela surge a partir de um espírito fadado a morrer, como um dinossauro – no entanto seu legado e proeminência ainda são espalhados por todo o mundo com o desenvolvimento da história. Quanto mais derramamento de sangue e devastação encontramos, mais encontramos Lilith.
Lilith ascende à proeminência no mundo a partir das sombras das tempestades e dos maus agouros. Ao longo do tempo ela foi associada à Lua, com Vênus, à mãe dos Djinn e a mãe dos Sidhe (‘fadas’). Ela foi tratada como um súcubo – ou a mãe deles, como um Espectro e uma Feiticeira. Da Suméria e Caldéia ela esticou suas asas sobre Edom, Síria, Arábia e Europa. Blavatsky a viu como uma sombra éterea primordial da sexualidade – e é a partir de sua teosofia que encontramos as idéias modernas que a enxergam como um ícone da mulher reprimida que busca o domínio.
No livro de necromancia intitulado ‘Forbidden Rites’ (Ritos Proibidos, Penn State Uni Press., 1997) Richard Kieckhefer fornece instruções para a criação de um espelho de Lylet ou Lilith. Este espelho deve ser confeccionado nos dias de Saturno, nas horas de Marte (i.e. o maléfico com maléfico). O gênio daemônico, contudo, é chamado Floron. Floron deve er uma referência a um espírito do verde, sendo floral pelo o nome e, portanto, uma referência ao Jardim do Éden pode ser detectada.
No Lemegeton temos dois candidatos que podem estar lingüisticamente relacionados e, assim, pode ser que Floron seja na verdade ou Flauros (Havres) e/ou Focalor, ambos duques sob os raios de Vênus. Flauros é um duque formidável que surge na forma de um homem-leopardo, e nos diz muito sobre a hoste caída e as condições do mundo antes da queda. Ele é um duque impetuoso e ígneo e pode ser utilizado em trabalhos de vingança. Ele recebe o valor cabalístico de 212, ‘esplendor’. Focalor aparece como um grifo, uma criatura com o corpo de leão e asas de águia. Ele é um espírito do vento que é ligado aos oceanos e mares. Seu valor cabalístico é 342, que significa ‘caminho’. Juntos eles resultam em 554 que é Zorea Zara, ‘carregar a semente’ – conseqüentemente, algo fértil acontece aqui, onde o caminho do esplendor se abre para a semente. Diz-se também que foi prometido a Focalor entrar novamente no céu após mil anos de servidão, – mas no final a entrada foi negada.
Então, o próprio espelho é um produto dos duques do Lemegeton, um espelho de Vênus. Porém, este espelho de Vênus deve ser produzido quando os dois maléficos, Marte e Saturno estão fortes – ou para trabalhos benevolentes quando Júpiter e Saturno são encontrados em bons aspectos entre si. Além disso, Flauros é um demônio de Capricórnio enquanto Focalor é um demônio de Touro – e Touro é o signo que detém a estrela Algol na constelação de Perseu. Assim como Medusa procurou refúgio em uma caverna, Lilith procurou refúgio numa caverna no mar vermelho.
Encontramos sua mais recente interpretação na série ‘True Blood’ da HBO. Aqui Lilith surge de poças de sangue causados pela intoxicação de seus lilins que entram em uma sede de sangue frenética – e ela mesma traz dispersão e devastação em uma estranha sedução em seus filhos. Talvez esta visão seja a mais precisa na percepção de sua natureza. Trata-se de dominação, de êxtase, de frustração. Lilith é sexual, mas ela está muito mais relacionada com a frustração da liberação tardia da sexualidade, atípica da tradição vama marg da prática tântrica kaula do que um com um florescente jardim de delícias sexuais. Assim como a lua negra astrológica – a ela associada – é um ponto matemático no espaço, ela também é um estado mental semelhante ao que é conhecido no BSDM como ‘subestado’.
Ela não é um poder restrito à ordem estabelecida pelos homens e, portanto, ela sempre escapa de qualquer rótulo e qualquer tentativa de colocá-la em uma caixa racional nítida de clareza e identidade. No momento em que isso acontece, ela se liberta e declara que ela é diferente disso.
Como o mundo neo-pagão está crescendo, a veneração de Lilith como um daimon da sexualidade e poderes femininos também tem visto um crescimento. Apesar de nunca ter sido um daimon da fertilidade ou da maternidade, ela é cada vez mais tratada como tal. Ela é vista como uma salvadora de mulheres reprimidas, e talvez nisto ela tenha uma função benevolente. Mas isto não é ela; ela é muito mais…
Lilith passou por uma transição nos dias modernos que é muito semelhante ao que encontramos na astrologia, considerando a natureza da oitava casa e o signo de Escorpião. A astrologia moderna vê a casa 8 regida por Escorpião e vê Escorpião como o impulso sexual primordial. A astrologia clássica vê o signo de Escorpião regido por Marte, um signo escuro e úmido que é intuitivo e sedento pela morte. Sua sexualidade está em conformidade com instintos primordiais de sobrevivência e procriação, como ocorre na maioria dos anfíbios. A oitava casa é em si um local onde morte – e conseqüentemente heranças são lidas e previstas. Na oitava casa Saturno encontra seu júbilo e é aqui que todo maléfico se une na luxúria anfíbia dos crocodilos, víboras e escorpiões…
Então, certamente, Lilith é um daimon sexual, mas seu luxúria erótica é o da noite e das sombras. Na verdade, ela é a erva venenosa e a cabeça da Medusa – ela está além dos planetas, ela é Algol – e aqui na terra, tais questões estelares se manifestam como terror. Ela não gentil, ela era a esposa de Samael, o veneno de Deus, e era a árvore proibida, o próprio contrapeso. Ela era a mãe dos amaldiçoados, aqueles que foram chamados de bruxos e feiticeiros por aqueles que não conseguiram entendê-La, nem aos seus filhos.
Ela é verdadeira e profundamente ligada com a estrela Algol ou al-ghûl – nomeada assim dada a classe de djinns de mesmo nome. Tal estrela é encontrada no heléboro e nos diamantes. É distintivamente saturnina, mas exaltada quando Marte está ascendendo. O impulso de Vênus está relacionado a graça feminina, ao velar dos diamantes no heléboro para deflagrar vingança ou caos...