segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Banshee



Na Irlanda se acredita que aqueles que possuem o dom da música e do canto, são protegidos pelos espíritos da vida ou da morte.

O Espírito da Vida, profético, cujas pessoas são chamadas "fey" e têm o dom da Visão; o outro, o Espírito da Maldição que revela os segredos da má sorte e da morte, e para essa trágica mensageira o nome é Banshee.

As Banshee provêm da família das fadas, e é a forma mais obscura delas. Quando alguém avistava uma Banshee sabia logo que seu fim estava próximo. Os dias restantes de sua vida podiam ser contados pelos gritos da Banshee, cada grito era um dia de vida e, se apenas um grito fosse ouvido, naquela mesma noite estaria morto.

Tradicionalmente, quando uma pessoa de uma aldeia irlandesa morria, uma mulher era designada para chorar no funeral. Nós usamos a palavra carpideira. Mas, as banshees só podiam lamentar para as cinco maiores famílias irlandesas: os O'Neills, os O'Briens, os O'Connors, os O'Gradys e os Klatte's no caso, uma fada era responsável por cada família. Seria o choro da mulher-fada. Essas mulheres-fadas apareceriam sempre após a morte para chorar no funeral. Conta a lenda que quando um membro de uma dessas famílias morria longe de sua terra, o som da banshee gemendo seria o primeiro aviso da morte.
Também se diz que essas mulheres, seriam fantasmas, talvez o espírito feminino assassinado ou que morreu ao nascer.

Sejam quais forem suas origens, as banshees aparecem principalmente sob um dos três disfarces: uma jovem, uma mulher ou uma pessoa esfarrapada. Isso representa o aspecto tríplice da deusa Celta da guerra e da morte, chamada Badhbh, Macha e Mor-Rioghain. Ela normalmente usa uma capa com capuz cinza, ou uma roupa esvoaçante ou uma mortalha. Mas também pode surgir como uma lavadeira, e é vista lavando roupas sujas de sangue daqueles que irão morrer. Nesse disfarce ela é conhecida como bean-nighe (a lavadeira). Segundo a mitologia celta, também pode aparecer em forma de uma jovem e bela mulher, ou mesmo de uma velha repugnante. Qualquer que seja a forma, porém, sua face é sempre muito pálida como a morte, e seus cabelos por vezes são negros como a noite ou ruivos como o sol.

O gemido da Banshee é um som especialmente triste que parece o som melancólico do uivo do vento e tem o tom da voz humana além de ser ouvido a grande distância. Embora nem sempre seja vista, seu gemido é ouvido, usualmente a noite quando alguém está prestes a morrer. Em 1437, se aproximou do rei James I da Escócia, uma vidente ou banshee que profetizou o assassinato do rei por instigação do Conde de Atholl. Esse é um exemplo de banshee em forma humana.

Existem muitos registros de diversas banshees que atendiam às grandes casas da Irlanda e às cortes dos reis locais. Em algumas partes de Leinster, se referem a elas como bean chaointe (carpideira) cujo lamento podia ser tão agudo que quebrava os vidros.

As banshees pertence exclusivamente ao povo Celta. Ela jamais será ouvida a anunciar a morte de qualquer membro de outras etnias que compõem a população irlandesa. E também pode aparecer de várias outras formas, como um corvo, um arminho, uma lebre ou uma doninha – animais associados, na Irlanda à bruxaria.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O BICHO PAPÃO

O BICHO PAPÃO




O bicho-papão é uma figura fictícia da tradição da maioria das sociedades, que representa uma forma de meter medo às crianças, caso não façam o que lhes é mandado tal como outros seres míticos como o homem do saco, coca, ou monstro do armário.

Já na altura das Cruzadas, os muçulmanos da Terra Santa personificavam o bicho papão no rei Ricardo, Coração de Leão, dizendo aos filhos: «porta-te bem senão o melek-ric vem buscar-te».



Rei Ricardo, Coração de Leão

Todas estas designações estão associadas ao mal que pode ocorrer às crianças caso se afastem ou contrariem os pais; a expressão "porta-te bem senão vem o homem do saco e leva-te" induzia assim o respeito das crianças sobre a eventual negligência deliberada, caso o monstro realmente viesse.
Sentindo-se sozinhas e desamparadas, as crianças tendem a obedecer. (Eu fiz um artigo sobre o desenvolvimento da moral e da ética nos contos de fadas, e entendi que os contos,e no caso o bicho papão são uma maneira de ensinar as crinças as regras e leis da sociedade, sem chocá-las, ficando apenas no lúdico ^^).
Quanto aos nomes conhecidos, existem diferentes comportamentos associados ao monstro:O bicho-papão come as crianças; é, portanto, um monstro terrível; A coca aparece em lugares escuros, ou em cima do telhado; O homem do saco leva as crianças no saco; o que faria com elas deixa-se ao fruto da imaginação das crianças; O melek-ric levaria as crianças para as tornar escravas;



Em Portugal o papão é tema de uma antiga cantiga de embalar:Vai-te papão, vai-te embora de cima desse telhado, deixa dormir o menino um soninho descansado.

O BICHO PAPÃO NO MUNDO

A figura do bicho-papão é semelhante à do Père Fouettard na França...




Krampus na Baviera e Áustria...

...Ruprecht ou Knechtruprecht em outras regiões da Alemanha.

No Brasil e em Portugal é comum usar-se o termo bicho-papão, mas curiosamente sua forma física parece nunca ser descrita; também usa-se o termo homem do saco, mas este seria só um homem comum que seqüestra criancinhas.
Nos Países Baixos, ele tem o nome de Zwart Piet (Pedro negro).
Ele tem a tarefa de recolher as crianças malvadas ou desobedientes e atirá-las no Mar Negro ou de levá-las para a Espanha. Na verdade, segundo a tradição, esses personagens lúgubres seriam mouros deixados nos Países Baixos durante a ocupação espanhola.

Zwart Piet com o São Nicolau (Papai Noel)- encontrei muitas imagens dos bichos papões com cenas natalinas, assim como com o papai noel, será que ele diz quem foram as crianças mal-comportadas?Em Luxemburgo, o Housecker tem no seu saco diversas «rudden», pequenas varas de madeira, como os galhos de um chorão, para bater nas nádegas das crianças desobedientes. Com a evolução da educação, o Housecker não pune mais as crianças, contentando-se em distribuir uma vara, de maneira simbólica, às crianças ou adultos que a merecem. Em geral, trata-se de professores ou políticos locais que as recebem, fazendo rir todo mundo.LENDA ORIGINAL DO BICHO PAPÃOEsta lenda diz que, há muitos anos atrás, havia um feiticeiro que fazia magia com os corpos das crianças travessas das aldeias.Primeiro, em plena luz do dia, ele sempre aparecia no lugarejo, com um saco nas mãos para observar as crianças rebeldes.Á noite, por causa de um feitiço que foi jogado contra ele, este homem virava uma criatura horrenda. Assim, neste formato, ele invadia a casa da criança travessa para roubá-la. Daí vem o seu apelido de Bicho Papão.Diz a tradição que o feiticeiro pegava as crianças mais peraltas, porque, segundo a magia, os travessos tinham mais energia que os comportados.

Sereias



Os mitos e as lendas dos humanos-peixe atravessaram inúmeras culturas, mas tiveram maior importância nos povos que buscaram a sua sorte em longas viagens através do mar. São exemplo disso as lendas nórdicas e gregas, nas quais os marinheiros encontravam belos seres que os chamavam para as águas mortais. O próprio Colombo anotou no seu diário de bordo encontros com estes fabulosos animais.Muito provavelmente nós, nos dias de hoje, ainda vemos as sereias. E chamamos-lhes muitos nomes Mas agora "elas" foram catalogadas pela ciência.Golfinhos e manatins assemelham-se às descrições das lendas. Em todas elas, as sereias surgem-nos como "mulheres-peixe", no entanto as suas caudas de "peixe" surgiram nas mais antigas ilustrações extremamente semelhantes às caudas dos mamíferos marinhos.Sereia é um ser mitológico, parte mulher e parte peixe (ou pássaro, segundo vários escritores e poetas antigos). É provável que o mito tenha tido origem em relatos da existência de animais com características próximas daquela que, mais tarde foram classificados como sirénios.
Filhas do rio Achelous e da musa Terpsícore, habitavam os rochedos entre a ilha de Capri e a costa da Itália. Eram tão lindas e cantavam com tanta doçura que atraíam os tripulantes dos navios que passavam por ali para os navios colidirem com os rochedos e afundarem.



Odisseu ( Ulisses ), personagem da Odisséia de Homero, conseguiu salvar-se porque colocou cera nos ouvidos dos seus marinheiros e amarrou-se ao mastro de seu navio, para poder ouvi-las sem correr o risco de atirar-se ao mar seguindo-as.
Na Grécia Antiga, porém, os seres que atacaram Odisseu eram na verdade, retratados como sendo sereias, mulheres que ofenderam a deusa Afrodite e foram viver numa ilha isolada. Se assemelham às harpias, mas possuem penas negras, uma linda voz e uma beleza única.



As primeiras sereias

Os relatos mais conhecidos vem da antigüidade clássica, sendo o episódio mais famoso aquele na Odisséia, de Homero, onde Ulisses exausto depois de tantos anos tentando retornar à Ítaca, tem que atravessar a região onde ficavam as sereias. Graças aos conselhos da feiticeira Circe, Ulisses instrui sua tripulação para que o amarrem com força junto ao mastro de seu barco enquanto seus marinheiros deveriam fechar os ouvidos com cera. Dessa maneira Ulisses passa incólume e por fim volta para casa. Dessa experiência fica-lhe o sofrimento e o desespero vividos enquanto estava preso ao mastro, escutando e sentindo o canto e os encantos daquelas mulheres.

Outro episódio importante é o de Orfeu que embarca com a expedição dos Argonautas e no encontro com as sereias se põe a cantar de tal forma e com tal encanto que consegue superar o fascínio do Canto das Sereias. Nessa passagem apenas um dos tripulantes, Butes, não resiste e se lança ao mar para uma morte certa, sendo no entanto salvo por Afrodite e alcançando assim um destino mais feliz.


Genealogia e Atributos

Apesar de haver variações, três são consideradas as sereias da antigüidade clássica: Leucotea (a deusa branca), Ligia ( a de voz clara) e Parténope (a virgem). A questão da paternidade das sereias não é muito questionada e em geral considera-se que Aqueloo, a mais antiga divindade fluvial do Ocidente, seria o pai das sereias. Já sua maternidade é bastante controvertida. Segundo uma das versões, Aqueloo tem um corno arrancado por Hércules na disputa por Dejanira. Das gotas do sangue derramado teriam nascido as sereias. Fato curioso este, pois esta narrativa se aproxima muito daquela que descreve o surgimento de outras figuras femininas importantes como Atená e Afrodite, cujos nascimentos também ocorrem sem intermediação materna. Em outras versões elas seriam filhas de Aqueloo e da Musa Melpômene, Estérope, ou Terpsícore.
Acompanhando o estudo de Meri Lao (Las Sirenas, 1985), encontramos referências sobre a morfogênese das sereias em três versões que expressam bem a ligação entre elas e o mundo feminino arcaico, nas seguintes passagens: a primeira conta que as sereias haviam se atrevido a competir em canto com as Musas, as quais lhes arrancam as penas sem piedade para utilizá-las como coroas. Em outra passagem Afrodite as teria castigado dando-lhes forma de pássaros devido à sua recusa em unir-se com mortais ou com divinos. Em outra versão as asas das sereias estão associadas ao mito de Deméter e sua filha Kore-Perséfone. Como ninfas do séquito de Kore, Deméter as teria transformado em aves como punição por não terem evitado o rapto de sua filha por Hades. Além disso, as sereias são frequentemente descritas como fiéis a Perséfone, intercedendo junto a ela em favor dos mortos através de cantos fúnebres. Nesse sentido podemos entendê-las como seres que conhecem e participam dos Mistérios e dos ritos sagrados de morte e renascimento.
Nesse percurso as sereias ganharam dois acessórios importantes que passaram a formar parte de sua representação simbólica: o espelho e o pente. Os pelos e os cabelos sempre estiveram associados à sexualidade e indicam atributos de natureza sexual. Cabeleiras hirsutas ou desgrenhadas são atributos de personagens tidos como indomáveis, loucos, lunáticos ou geniais e, assim como os pentes são utilizados para cardar a lã dos animais tornando-os mais atraentes, íntimos e convidativos, também são usados para "domesticar" os cabelos e domar a sensualidade animal.
Já o espelho nos fala da vaidade e da beleza, mas antes é instrumento que revela, ilude ou engana. Separa o virtual do real, e nos assombra mostrando mundos paralelos, infinitos, mágicos. O espelho é armadilha para aprisionar almas e sua ambigüidade é a mesma das sereias, que surgem no espelho d'água nos convidando a cruzar a fronteira entre dois mundos. Assim vemos que, onde quer que apareçam, Sereias, Iaras ou Iemanjás, carregam seus pentes e espelhos como parte dessa simbólica.
Quanto ao caráter, na tradição clássica as sereias são descritas como ameaçadoras e vorazes, mas também vamos encontrar sereias protetoras e maternais. Também são retratadas como prostitutas, foram identificadas com santas, e como divindades de importantes mitos de criação. Vejamos algumas destas ocorrências.
Seu lado ameaçador e voraz talvez seja um dos mais marcantes e presentes na mítica grega antiga, nas lendas medievais e no folclore latino americano. Na narração de Homero, a feiticeira Circe descreve as sereias "sentadas e rodeadas por montes de ossos de homens putrefatos cuja pele ia se engrouvinhando" (Homero, Odisseia, Canto XII). Na Idade Média essa voracidade aparece associada ao vício, ao pecado e às tentações. Já no folclore latino americano, por exemplo, existem algumas lendas argentinas que falam de uma sereia que em troca de riquezas exige do pobre pescador que lhe entregue seu filho homem.
Como figuras protetoras elas aparecerão bordadas em mortalhas de pescadores ingleses no séc. XVI e identificadas com santas, como no caso de uma sereia irlandesa do lago de Belfast. Batizaram-na com o nome de Murgen (nascida do mar) e a ela foram atribuídos muitos milagres, e parece que Congal, o santo irlandês, intercedendo perante as potências divinas, conseguiu fazer com que subisse ao céu. (Meri Lao, 1985, 85)
Como figuras maternais estão presentes em inúmeras catedrais e igrejas européias onde aparecem amamentando uma criança, esculpidas em capitéis, colunas, relevos e afrescos. Também no Brasil, no Convento de São Francisco (1779), em João Pessoa, existem seis sereias funerárias esculpidas nas bases das colunas da capela do Santíssimo Sacramento. (Cascudo, L.C., 1954, 576).


Sereias no Continente Americano

É surpreendente a quantidade de histórias e lendas sobre sereias em continente americano, e vamos encontrá-las em lendas esquimós no Canadá, México, Brasil, Argentina e Chile, através de Iemanjá no candomblé, e nas lendas amazônicas sob a figura de Iara.
Entre os esquimós, Sedna é uma mistura de mulher e foca e é objeto de adoração entre eles através de cerimoniais de transe coletivo.
O mesmo aspecto de uma divindade importante no mito de criação de um povo, cultuada com rituais de transe e representada como sereias, vamos encontrar especialmente no Brasil nos rituais do Candomblé, na figura de Iemanjá.
Princesinha do Mar, Rainha do Mar, Rainha das Águas ou Dona Janaína, são alguns dentre os quase 30 nomes pelos quais é conhecida no Brasil. Seu nome deriva do iorubá Yèyé omo ejá, que significa "Mãe cujos filhos são peixes" (Verger, 1981, 190)
Camara Cascudo faz referência a sereias africanas como a Kianda, dos kimbundos e a Kiximbi, dos mbakas (Cascudo,L.C.,1948), mas é no Brasil que Iemanjá será identificada como Sereia, provavelmente por influência das lendas indígenas sobre a Iara. Existem muitas versões do mito de Iemanjá e as variações no culto se devem aos diferentes grupos étnicos de negros trazidos ao Brasil como escravos e aos modos de aculturação. O sincretismo com o cristianismo acabou por associar Iemanjá e a Virgem Maria nas figuras de NS da Conceição, NS das Candeias e NS dos Navegantes, principalmente nos estados da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Nas procissões Iemanjá é representada por uma linda sereia toda colorida e cuidadosamente adornada.
Na Bahia comemora-se a Festa de Iemanjá no dia dois de fevereiro com uma grande procissão marítima que começa de manhã bem cedo com a presença de milhares de fiéis, visitantes e curiosos. As "baianas" estão todas arrumadas, vestidas de branco, os barcos decorados e um clima de grande animação. Os barcos saem para o mar ao som de tambores, carregando seus fiéis e, principalmente, cestos de palha com oferendas para Iemanjá. A ela são oferecidos pentes, espelhos, perfumes, flores e bilhetes com pedidos que serão lançados em alto mar. Nesse momento as filhas-de-santo que estão no barco caem em transe. Finalmente os barcos regressam e no dia seguinte, se os presentes voltarem, acredita-se que o ano será ruim para a pesca, mas se Iemanjá aceitá-los então esse será um ano bom.
Estes festejos encontram um interessante paralelo com a festa do Navigium Isidis em honra à deusa Ísis, ou Ísis Pelagia, senhora do mar e protetora dos navegantes. Essa festa era comemorada no dia 5 de março marcando a reabertura da navegação sob a proteção da deusa e o renovar-se de toda a natureza. Era comemorada também com uma procissão marítima na qual era oferecido à deusa um barco novo, purificado pelos sacerdotes e carregado de oferendas de todo tipo pelos fiéis. Segundo a descrição de Apuleio, abriam o cortejo mulheres vestidas de branco e adornadas com guirlandas, que jogavam flores, enquanto outras levavam espelhos e pentes para pentear a deusa, e outras ainda espalhavam perfumes e ungüentos. (Apuleio, XI, O Asno de Ouro)
Essa festa do mundo greco-romano foi muito popular até que com o édito de 395 d.C. o Navigium Isidis foi proibido, assim como todas as festas pagãs. Mesmo assim alguns escritores confirmam sua sobrevivência ainda nos séculos V e VI.
É digna de nota a semelhança desta festa de Ísis com a festa de Iemanjá, com suas procissões, rituais, roupas brancas, e oferendas dos fiéis para as Rainhas do Mar. Apesar de não se fazer nenhuma referência à sereia nessa passagem, não deixa de ser interessante notar que entre os presentes oferecidos estão espelhos e pentes os quais, como vimos, são elementos significativos da simbólica das sereias e também são oferecidos à Iemanjá.



Iaras e Botos

Os mitos e lendas do folclore indígena brasileiro também nos trazem inúmeras histórias de sereias que por aqui foram batizadas de Iara. Curiosamente elas são loiras, tem seus espelhos, estão sempre se penteando, cantando, e vivem em palácios ou cidades submersas. Camara Cascudo diz não ter conhecimento da existência de nenhuma sereia ou Iara na tradição indígena pura, e que tais lendas decorreriam da influência portuguesa que por aqui desembarcou com suas próprias lendas.
O que de fato parece pertencer ao imaginário indígena é uma outra entidade fantástica conhecida como Igpuiara, assim traduzido por Teodoro Sampaio: " ypú-piara, o que reside ou jaz na fonte, o que habita o fundo das águas. É o gênio das fontes, animal misterioso que os índios davam como homem marinho, inimigo de pescadores e lavadeiras." (Sampaio, T., 1928). Além deste monstro, vamos encontrar o ciclo da Cobra Grande ou da Boiúna, este sim um motivo bastante expressivo do imaginário indígena amazônico e do folclore colonial. Era um ser apavorante, uma serpente imensa sem pena de nada nem de ninguém, capaz de virar os barcos e afogar os banhistas. Com o tempo a Cobra Grande passou a ser chamada também por Mãe d'água, que é uma representação que vai facilitar o sincretismo com as lendas e mito do branco europeu e do negro africano.
Os navegadores portugueses trouxeram evidentemente muito das lendas de sereias ligadas à tradição greco-romana e européia, além de lendas próprias como as das Mouras Encantadas :
Eram filhas de reis ou príncipes mouros, reféns de soberanos cristãos, deixadas nas terras portuguesas para vigiar tesouros escondidos até que voltassem a dominar. Nessas histórias aparecem vários itens formadores da lenda: há uma mulher encantada que canta divinamente e oferece tesouros a quem dela se aproximar. Transforma-se sempre em cobras gigantescas, usa cabeleira longa e é de estonteante beleza. (Cascudo, L.C., 1948, 124)
Parece que da junção dessas matrizes imaginárias surgiu a Iara das lendas brasileiras com todo o feitio e os apetrechos da sereia estrangeira, embora na sua etimologia vamos encontrar um traço dessas origens nativas: Ig + iara quer dizer Senhor das águas, e não Senhora, talvez como um resquício do Igpupiara que é o homem marinho da nossa matriz indígena.
O ciclo do Boto também é muito antigo e interessante. Diferente das Iaras, o Boto não mata ninguém. Nos dias de lua cheia ele se transforma num belo rapaz e vem para as festas beber e dançar com as moças, causando irresistível fascínio nas mulheres. Namora elas e depois vai embora, deixando-as grávidas e apaixonadas. Usa sempre um chapéu na cabeça para que ninguém veja o orifício respiratório característico dos golfinhos. No Amazonas e no Pará, quando uma moça não sabe quem é o pai de seu filho, dizem que a criança é filho do Boto.
Desde a antigüidade os golfinhos colecionam feitos amorosos relatados na literatura greco-romana. Com freqüência surge associado a figura de Vênus (Afrodite), cujo sinal também aparece nos espelhos das sereias em muitas ilustrações. Com algumas variações, vamos encontrar lendas de botos e sereias também na Argentina e no Chile.

O canto é um dos elementos simbólicos mais expressivos associados às sereias. O canto puro representa uma força de atração direta que atinge algo que está para além das construções defensivas do ego, indo diretamente mobilizar, constelar poderosos aspectos inconsciente da personalidade.
Já Apólo havia caído fascinado pelos sons que o jovem Hermes tirava de sua lira. Os mantras sagrados funcionam da mesma maneira, tanto para harmonizar quanto para destruir. Mais recentemente, no famoso conto de Andersen, A Pequena Sereia, vemos que ela troca sua voz encantadora por um par de pernas humanas. Nos dias de hoje as sirenes (sereias) de ambulâncias e bombeiros nos paralisam por breves instantes numa angústia de aflição e morte. Temos também a expressão "cair no canto da sereia" com o sentido de logro, engano.
Em todas essas expressões os sons, a música e a voz são os instrumentos utilizados para atrair, seduzir e convencer, ultrapassando todos os contra-argumentos retóricos, morais e psicológicos. É importante notar que essa força de sedução talvez se deva menos a debilidades do ego e mais ao fato de que algo profundo é tocado ou despertado ao som dessas sirenes.
Isso é sedução. Essa atração encantadora e irresistível é parte essencial desse símbolo mas, como veremos mais adiante, talvez a razão profunda de tão brutal fascínio não possa ser compreendida com base em interpretações rasas em torno do tema da sexualidade.
Então, entre outras coisas a sereia representa a sedução arquetípica, a sedução da psique unilateral promovendo uma inevitável enantiodromia, "o princípio que governa todos os ciclos da vida natural, desde o menor até o maior" (Jung, C.G., CW 6, parag.708). Seduzir vem do latim se-ducere e significa, dentro de seu campo semântico, conduzir à parte, guiar a outro lado, mudar de rota, deslocar, divagar, digredir, obrigar a mudança.
Mas que mudança? Mudança no sentido psíquico, para que se dê ouvidos à alma, à anima, para que dialoguemos com nossas potências inconscientes e para que possamos de fato dar asas a nossa imaginação simbólica, criativa, se levamos a fundo o sentido de individuação proposto por Jung. O canto (sedução) da sereia pode ser arrebatador e mortal, para o ego.
Não é de outra coisa que está falando Hillman ao dizer que o lugar da alma é o mundus imaginalis, o mundo imaginal, o mundo dos sonhos para o qual o ego é irremediavelmente seduzido todas as noites. Isso não é a morte, mas o reino de Hades. Para Hillaman a metáfora da morte nos permite entender o reino dos mortos como o mundo das almas, ou seja, como o lugar da anima, da psique viva.
"Das sedutoras do mar dizia-se que adestravam o homem para a morte, o que poderia ser correto, mas no sentido proposto por Baudriallard:
Qualquer força masculina é força de produção[..] A única, e irresistível, força da feminilidade é aquela, inversa, a da sedução[...] A sedução é mais forte do que a sexualidade, com a qual não há que confundi-la nunca[...] Para nós, só está morto aquele que não quer seduzir em absoluto, nem ser seduzido". (Lao, M., 1995, 45)
Essa é a sedução essencial, expressão profunda do arquétipo da anima, arquétipo de ligação, seja ele representado como sereia pássaro, sereia peixe, amante, santa, prostituta, Iara, Boto ou Iemanjá. A sedução / canto é a expressão primordial da anima.
No mundo capitalista contemporâneo o canto da sereia exerce igualmente o seu poder de sedução, funcionando na polaridade oposta. O capitalismo nos promete a felicidade total pelo consumo de bens e as novas tecnologias nos fazem sonhar com um mundo de progressos sem limites, infinitos. Entretanto, na nova mítica já não morremos mais, apenas ficamos obsoletos.
Uma propaganda de cartão de crédito mostra que apenas algumas poucas coisas na vida o dinheiro não é capaz de comprar. (e são cada vez menos). Para todas as outras basta um cartão de crédito. E já não falta quem defenda que com a decodificação do DNA (e com um bom cartão de crédito) em breve será possível comprar vida, anos de vida, ou até mesmo sobreviver através de um clone. Essa é a verdadeira sedução perversa, que foge da morte, nega a morte e qualquer possibilidade de iniciação simbólica, forjando analfabetos psíquicos. Não iniciados são não nascidos, e estes se prestam a permanecer numa incubadora, alimentando a poderosa Matrix que são nossos complexos autônomos, para quem se lembra do filme de Larry and Andy Wachowski.
As sereias cantam para que mantenhamos o diálogo criativo com o inconsciente, com a imaginação, entre a vida e a morte, entre a sereia e o pescador, que afinal somos todos nós. Não adianta apenas ficar amarrado ao mastro, como Ulisses, e depois deixar morrer a tentação. É preciso mais. É preciso que em nossas vidas haja mais espaço para processamento, tempo de elaboração, um tempo circular, tempo para circum-ambular pela experiência, no cumprimento de ritos que venham a atualizar os mitos dentro de nós.
Precisamos urgentemente reconstruir o diálogo com a Imaginação e valorizar as expressões do nosso imaginário mitológico, folclórico, coletivo e pessoal. Ao longo da história observamos que o desprestígio da Imaginação e do mundo imaginário se dá ao mesmo tempo em que a mulher e o mundo feminino também vão sendo desvalorizados, já a partir do século V a.C., na pólis grega. Segundo Zoja, "a hýbris , pela qual o grego prevê a punição e plasma a figura de nêmesis, é o pecado de uma sociedade cujos excessos trazem a marca do homem; e o primeiro desses pecados foi exatamente a submissão da mulher". (Zoja, L., 2000, 50)
Essa também era a mentalidade portuguesa que aportou por aqui em 1500 e que não entendeu que para os nossos indígenas o mundo feminino era supremo. "O índio dizia que tudo neste mundo tinha uma Mãe. Devia haver uma Ci para todas as espécies animais, vegetais e minerais. O Sol era a Mãe dos Viventes e não o Pai. A Mãe bastava. Explicava". (Cascudo,L.C., 1948,128)
Muitos, ainda hoje, tratam a Imaginação com uma mentalidade bárbara, tal como as nossas mulheres índias violentadas ou as sereias que tiveram suas penas arrancadas. Mas a Psicologia Analítica já pode mostrar algo diferente.
Como última imagem quero restituir aqui a imagem da sereia alada que em algum lugar, e sempre, ainda canta para dar asas à nossa Imaginação e à construção da Alma.


A Praga da dança

A Praga da dança.

Em julho de 1518, a cidade francesa de Estrasburgo, na Alsáci(na época pertencente ao império romano-germânico) viveu um carnaval nada feliz. Uma mulher conhecida como Frau Troffea saiu de casa e pôs-se a dançar. Freneticamente.

Ela não esboçava nenhum sinal de alegria, apenas dançava sem parar. Depois de cerca de quatro dias de dança quase ininterrupta (em alguns momentos ela desmaiava de exaustão, apenas para retomar os movimentos certo tempo depois). Troffea foi levada para um templo, já com os sapatos encharcados de sangue.

Quando a febre da dança completava um mês, havia uns 400 alsacianos rodopiando e pulando sem parar debaixo do Sol de verão do Hemisfério Norte. Não há registro exato, mas acredita-se que quase 100 pessoas morreram de exaustão, com ataque cardíaco, ou por causa do calor. Finalmente, em agosto, os sobreviventes foram colocados a bordo de vagões e encaminhados para santuários de cura. Apenas em setembro a epidemia começou a retroceder.

Outros seis ou sete surtos afetaram localidades belgas depois da bagunça iniciada por Frau Troffea. O mais recente que se tem notícia ocorreu em Madagascar na década de 1840.

Para um especialista, Eugene Backman, a tese é que os alsacianos ingeriram um tipo de fungo (Ergot fungi), um mofo que cresce nos talos úmidos de centeio, e ficaram alucinados. (Tartarato de ergotamina é alcalóide do ergot componente do ácido lisérgico, o LSD.)
Deve ter sido a primeira festa rave da história.

Fontes: Super Interessante, Discovery News e BBC


A Lenda do Doppelgänger

A Lenda do Doppelgänger


Doppelganger by Perodog on Deviant Art...

Doppelgänger, segundo as lendas germânicas de onde provém, é um monstro ou ser fantástico que tem o dom de representar uma cópia idêntica de uma pessoa que ele escolhe ou que passa a acompanhar (como dando uma ideia de que cada pessoa tem o seu próprio). Ele imita em tudo a pessoa copiada, até mesmo as suas características internas mais profundas. O nome Doppelgänger se originou da fusão das palavras alemãs doppel(significa duplo, réplica ou duplicata) e gänger (andante, ambulante ou aquele que vaga).

Existem muitas controvérsias sobre como esta criatura misteriosa é tratada: uns dizem que ela anuncia maus agouros, enquanto outros ditam que é uma representação acentuada do lado negativo de uma pessoa. No primeiro caso, diz-se que ver o seu próprio doppelgänger é um sinal de morte iminente, pois a lenda reza que a pessoa está vendo a sua própria alma projetando-se para fora do corpo para assim embarcar para o plano astral. Em outras circunstâncias, se o Doppelgänger é visto por amigos ou parentes, isso é um anúncio de má sorte ou de problemas emocionais que se aproximam. No segundo caso, há quem diga que ele assume o negativo da pessoa para tentar sobre a mesma uma influência negra, de modo a converter a pessoa a fazer coisas cruéis ou simplesmente coisas que ela não faria naturalmente. Ainda existem aqueles que especulam que o doppelgängerseja um tipo de "conselheiro" invisível para a pessoa, seja dando avisos ou implantando idéias. Dado este plano, acredita-se que o doppelgänger somente é visível para quem o tem, e mesmo em tal circunstância ele só pode ser visto espiritualmente, pois ele não se reflete em espelhos ou qualquer superfície física. Estima-se também que cães e gatos podem ver os doppelgänger dos seres humanos, embora isso seja ainda não comprovado. Em parte há quem credite o doppelgänger como sendo o polar oposto de seu dono, ou seja, se a pessoa é boa, odoppelgänger é mau, ou o oposto. 

O Caso de Emilie Sagée

Um dos mais fascinantes relatos de um doppelganger vem do escritor americano Robert Dale Owen, que ouviu a história de um Doppelganger por Julie von Güldenstubbe, a segunda filha do barão von Güldenstubbe. Em 1845, quando von Güldenstubbe contava 13 anos de idade, ela foi enviada ao Pensionato von Neuwelcke, um colégio exclusivo para meninas; perto de Wolmar no que é agora a Letônia. Um de seus professores era uma francesa de 32 anos chamada Emilie Sagée.

Embora a administração da escola estivesse muito contente com o desempenho de Sagée junto aos alunos, ela logo se tornaria objeto de rumores e especulações estranhas. Sagée, ao que parece, possuía um Doppelganger que a perseguia por todos os lugares. O caso deixou de ser tratado como insanidade quando os próprios alunos de Sagée puderam ver ambas ao mesmo tempo, o que não é o mais comum, já que alguns estudiosos têm a opinião de que somente o próprio dono pode vê-los.

Um dia, no meio da turma na sala de aula, enquanto Sagée estava escrevendo no quadro negro, seu Doppelganger apareceu precisamente ao lado dela; copiando cada movimento da professora tal como ela escrevia, com a exceção de que não detinha qualquer pedaço de giz entre os dedos. O evento foi testemunhado por 13 alunos na sala de aula. Um incidente semelhante foi relatado em um jantar na qual seu Doppelganger foi visto em pé atrás dela, mimetizando os movimentos de sua alimentação, embora não utiliza-se nenhum dos utensílios como garfos ou facas.

No entanto, o Doppelganger nem sempre retrata o eco dos seus movimentos. Em várias ocasiões, Sagée seria vista em uma parte da escola, quando era conhecido de que ela estava em outro lugar, no exato mesmo horário. O mais espantoso exemplo do caso Sagée teve lugar em plena vista de todo o corpo estudantil de 42 alunos em um dia no verão 1846. As meninas estavam todas acomodadas no hall da escola para suas aulas de costura e bordado. A medida que sentaram-se ao longo das mesas de trabalho, elas podiam ver claramente Sagée no jardim da escola colhendo flores.

Um outro professor foi supervisionar as crianças. Quando este professor deixou a sala para falar com a diretora, o Doppelganger de Sagée apareceu em sua cadeira - enquanto a verdadeira Sagée ainda podia ser vista no jardim. As alunas observaram que os movimentos de Sagée no jardim pareciam muito cansados enquanto o doppelganger continuava sentado e imóvel na mesa da professora. Duas meninas munidas de uma coragem incomum para suas idades abordaram o "fantasma" na tentativa de tocá-lo, mas sentiram uma estranha resistência do ar em torno dela; quando finalmente consegui "tocá-la", o Doppelganger então desapareceu lentamente.

Sagée alegou nunca ter visto seu próprio Doppelganger, mas que sempre era tomada por um extremo cansaço, como se suas forças estivessem sendo drenadas para fora de seu corpo; ela empalidecia e sentia fome, apesar de jamais conseguir comer após essas aparições.

Outros casos:

John Donne, poeta Inglês do século XVI, cujo trabalho muitas vezes aflorou assuntos voltados para metafísica, foi visitado por um Doppelganger enquanto ele estava em Paris - e não o seu, mas o de sua mulher. Ela apareceu-lhe para mostrar um bebê recém-nascido. Sua esposa estava grávida na época, mas a aparição foi um sinal de grande tristeza. Ao mesmo momento que o Doppelganger apareceu, sua esposa havia dado à luz um filho nati-morto.

Percy Bysshe Shelley, ainda considerado um dos maiores poetas da língua Inglesa, encontrou seu doppelganger na Itália. O fantasma silenciosamente apontou em direção ao Mar Mediterrâneo. Pouco tempo depois, e pouco antes de seu trigésimo aniversário, em 1822, Shelley morreu em um acidente na pequena vela em que navegava - morrendo afogado no mesmo mar Mediterrâneo.

Rainha Elizabeth I da Inglaterra ficou chocada ao ver seu Doppelganger repousando em seu leito. A rainha morreu pouco tempo depois. A ocasião foi assunto dos jornais da época.

PARA OS CÉTICOS...

Visão científica

O fenômeno Doppelgänger, segundo os meios científicos, é provocado pelo mau funcionamento da junção temporo-parietal, uma região do cérebro responsável pela integração de várias sensações (táteis, visuais e de posicionamento do corpo) que constantemente chegam ao cérebro, "montando" a forma pela qual se entende o mundo e o posicionamento do corpo em relação ao que está ao redor. O mau funcionamento dessa região pode, portanto, acarretar o desacoplamento da percepção inconsciente do corpo e da sua representação no espaço. Quando as sensações táteis, de equilíbrio e visuais não coincidem entre si, a compreensão da localização do corpo e do que é pessoal ou extrapessoal perde-se, e tem-se a origem da intrigante sensação autoscópica ou extracorpórea, o que poderia explicar a visão do Doppelgänger.

Grifos


250px-GryphonUm grifo, ilustração para uma edição de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll.
Grifo é uma criatura lendária com cabeça e asas de águia e corpo de leão. Fazia seu ninho perto de tesouros e punha ovos de ouro sobre ninhos também de ouro. Outros ovos são frequentemente descritos como sendo de ágata.

A figura do grifo aparentemente surgiu no Oriente Médio onde babilônios, assírios e persas representaram a criatura em pinturas e esculturas. Voltaire incluiu na sua novela, A Princesa da Babilónia, dois enormes grifos amigos de uma fénix, que transportaram a princesa na sua viagem. Na Grécia acreditava-se que viviam perto dos hiperbóreos e pertenciam a Zeus. Filóstrato, escritor grego, referiu, na Vida de Apolônio de Tiana (livro VI. I), que os grifos da Índia eram guardiões do ouro. John Milton, no Livro II do Paraíso Perdido escreveu sobre os Arimaspos que se tentavam apoderar do ouro dos grifos. Também foi referido na poesia persa de Rumi. Na Idade Média Sir John Mandville escreveu sobre estes animais fabulosos no capítulo XXIX do seu célebre livro de viagens. Em tempos mais recentes, sua imagem passou a figurar em brasões pois aparentemente possui muitas virtudes e nenhum vício.

Os grifos são inimigos mortais dos basiliscos.

Como diversos animais fantásticos, incluindo centauros, sereias, fênix, entre outros, o Grifo simboliza um signo zodiacal, devido ao senso de justiça apurado, o fato de valorizar as artes e a inteligência, e o fato de dominar os céus e o ar, simboliza o signo de libra, a chamada balança.

Os grifos podem cruzar com éguas. Desse cruzamento damos o nome de hipogrifo, mas tais cruzamentos são, de forma, raros.

Também são retratados em moedas, por exemplo, na lira italiana tem, entre outros desenhos, o de um grifo.

Os grifos são possíveis confusões de fósseis de Protoceratops, dinossauros ceratopsídeos que viviam na Mongólia.

Exu


Os exus ou povo da rua são concebidos nas correntes predominantes na Umbanda como guardiões, encaminhadores e combatentes das forças das trevas. Cabe a eles o combate direto contra as energias que circulam no Astral Inferior, pois conhecem profundamente os caminhos e trilhas desse ambiente energético. É a sua função primeira, assim como a dos caboclos e pretos-velhos é a de orientar e aconselhar. Seriam os "policiais" do além, agentes e mensageiros dos orixás a cujas linhas pertencem e com os quais estão comprometidos, encarregados de reprimir os quiumbas, espíritos obsessores e moralmente atrasados. Nessa concepção, os exus não fazem o mal, mas devolvem o mal feito a outros, às vezes até com mais força.

Suas funções são cortar demandas, desfazer trabalhos, feitiços e magia negra, feitos por espíritos malignos. Ajudam nos descarregos retirando os encostos e espíritos obsessores e os encaminhando para luz ou para que possam cumprir suas penas em outros lugares do astral inferior.

Organização dos exus, segundo o projeto Ylê Iyá

Outras concepções, provavelmente mais comuns nos terreiros populares, fazem dos exus forças amorais, dispostas a fazer o mal a quem fizer oferendas e sacrifícios, sem distingui-los claramente dos quiumbas e sincretizando-os aos demônios cristãos. Nessa perspectiva, fazem parte da legião de Lúcifer, anjo que se revoltou contra o Criador e foi expulso dos Céus e suas fileiras se organizam sob o comando de uma trindade - Lúcifer, Belzebu e Astarot - análoga à trindade cristã, Pai, Filho e Espírito Santo, sincretizados, respectivamente, com Obatalá, Oxalá e Ifá.Uma tentativa de harmonizar essas concepções distingue três tipos de exus:
Exu pagão ou Exu-quiumba: não sabe distinguir o bem do mal e trabalha para quem pagar mais. Não é confiável, pois se for apanhado, é castigado pelas falanges do bem e volta-se contra quem o mandou. São os quiumbas da Umbanda tradicional.
Exu batizado ou Exu-de-lei: já conhece o bem e o mal, praticando os dois conscientemente; são os capangueiros ou empregados das entidades, a cujo serviço evoluem na prática do bem, porém conservando suas forças de cobrança. São os exus propriamente ditos na Umbanda tradicional.
Exu coroado: após grande evolução como empregado das entidades do bem, recebem, por mérito, a permissão de se apresentarem como elementos das linhas positivas, caboclos, pretos-velhos, crianças etc.

De qualquer forma, os exus gostam de fumar, beber, rir, brincar com as pessoas e dizer palavrões. São francos e diretos, não fazem rodeios nem mentem. Supõe-se que muitos exus foram pessoas comuns (inclusive, ou principalmente, malandros e prostitutas) que cometeram alguma falha e escolheram, ou foram escolhidos, a vir nessa forma para redimir seus erros passados. Outros seriam espíritos evoluídos que escolheram ajudar e continuar sua evolução atendendo e orientando as pessoas e combatendo o mal.

O dia dos exus é a segunda-feira e geralmente bebem cachaça. Sua roupa, quando possível, é preta e vermelha. Costuma-se fazer-lhes oferendas nas encruzilhadas, colocando dinheiro, velas pretas e vermelhas, charutos e cachaça ou batida de mel. No caso das pombagiras (exus femininos), costuma-se oferecer cigarros rosas e champanhe ou licor de anis.

A concepção e a classificação dos exus varia conforme a tenda ou terreiro, mas existem alguns nomes bem populares e conhecidos nos meios da Umbanda/Quimbanda:

  
Exu Caveira



Exu Tiriri



Exu Tranca-Ruas

Exu Zé Pelintra

Exu Caveira: ajuda nos conflitos, ensinando as artimanhas da guerra e o modo de vencer inimigos. É encarregado de vigiar os cemitérios e os lugares onde houver pessoas enterradas. Sua força é de modo a incutir medo aos que o invocam. Todo trabalho ou despacho a ser feito num cemitério precisa da participação do Exu Caveira. É lugar-tenente de Omolu e sem a sua participação, nenhum trabalho ou despacho feito no cemitério dará resultado. Para se entregar, seja o que for, a Omolu, no cruzeiro de um cemitério, é indispensável saudar primeiro Exu Caveira, acendendo uma vela em sua homenagem na sepultura mais próxima do Cruzeiro, à esquerda e pedindo-lhe licença para a entrega. Apresenta-se, em geral, com a forma de uma caveira. Na maioria das vezes, apresenta-se depois da "hora grande" (meia-noite).
Exu Tata Caveira: provoca o sono da morte e manipula drogas e entorpecentes. Apresenta-se como uma caveira, vestido de preto.
Exu Brasa: provoca de incêndios e domina o fogo. Concede o dom de andar sobre o fogo.
Exu Pemba: propaga moléstias venéreas e favorece amores clandestinos. Apresenta-se como um mago.
Exu Maré: facilita a invisibilidade das pessoas, dando-lhes poderes de se transportar de um lugar para outro. Sua apresentação é a de uma criatura normal. Provavelmente, uma corruptela de Oxumaré
Exu Carangola: faz as pessoas ficarem perturbadas e darem gargalhadas histéricas, dançando sem ter vontade; comanda o ritmo cabalístico da dança.
Exu Arranca-Toco: Habita as matas. É especializado no domínio de tesouros.
Exu Pagão: Separa casais. Tem poder de incutir ódio e ciúme nos corações humanos.
Exu da Meia-Noite: é um dos mais invocados, porquanto é o encarregado de escrever toda a sorte de caracteres e tratar, especialmente, das forças ocultas. Segundo uma crença popular, foi ele quem ensinou a São Cipriano todas as sortes e mágicas que fazia. À meia-noite, o Exu da Meia-Noite faz a ronda do mundo físico, sendo por isso que, na Umbanda, deixa-se passar, pelo menos, uns cinco minutos da meia-noite para se sair à rua ou para se deixar um Terreiro. Na Quimbanda é exatamente à meia-noite que se fazem os despachos destinados ao Exu da Meia-Noite.
Exu Mirim: influente sobre as mulheres e crianças, é preferido pelas Mães-de-Santo para os trabalhos de amarração. Apresenta-se com roupagem de criança.
Exu Pimenta: especializado na elaboração da química e dos filtros de amor. Dá o verdadeiro segredo do pó que transforma metais. É reconhecido quando incorpora por um forte cheiro de pimenta que exala.
Exu Malé: tem o poder das artes mágicas e das bruxarias que se realizam nos Candomblés. Apresenta-se com a forma de um Preto Velho, mas é reconhecido pelo forte cheiro de enxofre que exala.
Exu das Sete Montanhas: domina as águas dos rios e das cachoeiras que saem das montanhas. Sua roupagem é da cor do lodo e deixa no ar, quando incorporado, um forte cheiro de podre, emanado do seu corpo fluídico.
Exu Ganga: domina os despachos que se fazem nos cemitérios, tanto nos casos em que o trabalho é feito para o mal quanto para salvar alguém da morte. Apresenta-se vestido de preto e cinza, deixando no ar forte cheiro de carne em decomposição.
Exu Marabô: fiscal do plano físico, distribui ordens a seus comandados. Apresenta-se como um autêntico cavalheiro, dominando o francês, apreciando bebidas finas e os melhores charutos. De gênio muito difícil, raramente apresenta-se em terreiros
Exu Mangueira: Semelhante ao Marabô, mas expele cheiro forte de enxofre quando está sendo incorporado. De gênio muito dificil, é necessário recorrer a entidades superiores para retirá-lo.
Exu Caminaloá: trabalha ao lado do Exu Mangueira e é um dos seis mais poderosos. Apresenta-se comandando uma poderosa equipe de espíritos com a forma de Pretos, ornados de penas na cabeça e na cintura com argolas nos lábios, nas orelhas e nos braços. São esses espíritos, os especializados em provocar doenças mentais, até mesmo a loucura. O Exu Caminaloá é o Chefe da Linha de Mossurubi da Quimbanda.
Exu Quirombô: atua como Exu Mirim, mas é especializado em prejudicar mocinhas, desviando-as para o "mau caminho". Apresenta-se, também, como criança.
Exu Veludo - apresenta-se como um fino cavalheiro muito bem vestido, tomando bons conhaques e fumando bons charutos. Possui "pés de cabra" e gosta de trabalhar com "as moças".
Exu Tiriri - despacha trabalhos nas encruzilhadas, matas e rios. Apresenta-se como um homem preto com deformação facial.
Exu Tranca-Ruas das Almas - muito solicitado pelos terreiros antes de começar as sessões. Guarda as porteiras dos terreiros com sua falange, contra os quiumbas e também os recintos onde se pratica a Alta Magia.
Exu Sete Encruzilhadas: Tem prazer em ensinar e doutrinar, por isto sempre está tirando dúvidas a todo aquele que lhe faça perguntas, desde as perguntas mais insólitas como "porque há estrelas..." até as mais comuns como "quero saber se meu marido me engana..." Prefere beber uísque de boa qualidade e fumar charutos grossos. Sua voz é rouca, grave e forte. Quando está manifestado em algum médium, gosta também de azeitonas. Seu olhar é insustentável e quando se fixa em alguém, parece que o atravessa e sabe seus segredos mais íntimos. As pessoas que o conhecem sentem certa autoridade nele e o respeitam. Apresenta-se como um homem de idade avançada, de pele escura, barba e olhos vermelhos, cor de brasa. Traz a metade do seu corpo (o lado esquerdo) queimado, sendo que sua perna esquerda não funciona bem, por isto é muito comum que se apóie em um bastão.
Exu Zé Pelintra: É originário do Catimbó do Nordeste, onde usa chapéu de palha, lenço vermelho no pescoço, fuma cachimbo e gosta de andar descalço. Receita chás medicinais para a cura de qualquer mal, benzer e quebrar feitiços dos seus consulentes. Na Umbanda/Quimbanda, é representado de terno branco, gravata vermelha, cravo na lapela e chapéu caido na testa, de acordo com a figura tradicional do malandro carioca. Particularmente versátil e ambivalente, aparece tanto na Umbanda, como preto-velho, como na Quimbanda, como exu. Vem acompanhado de toda a linha de malandros, entidades supostamente oriundas de pessoas envolvidas com o submundo, jogo, prostitutas, bebidas fortes e drogas.

náiades ou efidríades



Uma Náiade, de John William Waterhouse (1893)

As náiades ou efidríades são as ninfas das águas doces. Seu primeiro nome provém do verbo grego nân, "escorrer", "correr".

Normalmente, as nascentes e cursos d'água possuem uma só, mas por vezes, são muitas e, neste caso, todas se consideram irmãs e com os mesmos direitos.

Homero, na Ilíada, dá-lhes como pai a Zeus, mas outros consideram-nas filhas de Oceano ou do Deus-rio onde residem. As filhas do deus-rio Asopo, por exemplo, são náiades.

Toda fonte ou curso d'água possui uma delas como protetora, com um mito próprio. É o caso, entre outros, de Aretusa, que fazia parte do cortejo de Ártemis. Após uma caçada, a ninfa banhava-se nas águas de uma fonte, quando o deus-rio Alfeu, repelido por Ártemis, tentou conquistá-la. Aretusa fugiu, mas o deus-rio continuou a persegui-la e ela apelou para a deusa, que a envolveu numa nuvem e a transformou em fonte. Para evitar que as águas de Alfeu se misturassem às de Aretusa, a mãe Terra se entreabriu para que as águas da fonte, ali penetrando, pudessem evitar o encontro indesejável. Orientada por Ártemis em seu percurso subterrâneo, Aretusa chegou a Siracusa e instalou-se na ilha de Ortígia, consagrada a Ártemis. Daí haverem duas fontes com esse mesmo nome, uma na Élida, outra na Sicília.

Certas águas tinham a reputação de milagrosas, graças às suas ninfas. Banhar-se nelas, porém, se não fosse por ordem expressa de um deus, era um sacrilégio que podia causar doenças incuráveis ou a morte. Outro risco em violar a sacralidade das águas habitadas pelas náiades era "ser tomado pelas ninfas" e enlouquecer. Quem as visse, tornava-se nympholeptos, isto é, possuído pelas ninfas, entrando em delírio.

Os latinos chamavam esse estado de lymphaticus, referindo-se às suas próprias divindades nativas da água, aslinfas (lymphae, lumpae ou limpae).



























Fadas


Cendrillon1A fada-madrinha prepara-se para transformar a abóbora para Cinderela (ilustração de Doré)


Uma fada (hada em castelhano, feé em francês, fata em italiano,fay em inglês) é uma entidade sobrenatural que intervém de forma mágica no fado, no destino das pessoas. Seu nome deriva defatum, fado ou destino em latim.

Originalmente, Fata era o nome popular, em latim vulgar, de cada uma das deusas que personificam o destino, conhecidas também como Parcas pelos romanos, Moiras pelos gregos e Nornas pelos nórdicos.

Em contos de fadas como Cinderela, A Bela Adormecida ePinóquio o papel das fadas ou fadas-madrinhas é o de encaminhar o jovem protagonista a seu destino e proporcionar a ajuda mágica necessária para atingi-lo. No papel de conselheiras, protetoras e inspiradoras pessoais, as fadas assemelham-se também ao gênio dos romanos.
Etimologia

O francês antigo fae(moderno fée) originou o inglês fae ou fay que ganhou um sentido mais genérico, confundindo-se com diferentes entidades do folclore celta e anglo-saxão de ambos os sexos, principalmente os elfos, mas também feiticeiras (como Morgan le Fay, a "Fada Morgana" ou "Morgana das Fadas") e outros.

Dessa palavra derivou faery ou fairy, que originalmente significava a qualidade, atividade, habitação ou país das fay, mas mais tarde veio a ser identificado com as entidades propriamente ditas, que incluem tanto elfos (geralmente imaginados como seres pequeninos e alados), quanto as "fadas" propriamente ditas (geralmente chamadas fairy-godmothers, "fadas-madrinhas") e os seres chamados em português de "duendes" ou "encantados", em geral.

A palavra "fada" em português também é às vezes tomada como nome genérico de seres sobrenaturais do sexo feminino ou, por influência do inglês como equivalente de elfa.

Entretanto, a tradução mais exata de fairies, no sentido amplo que tem em inglês, seria encantados ou mesmo duendes. No sentido de lugar ou qualidade, o equivalente mais preciso em português seria encantaria.

Anel de Fadas

Acreditava-se que às vezes, as fadas se reuniam e dançavam em círculo, festejando. Ao amanheçer, o local em que dançaram aparecia como um círculo de grama verde-luminosa ou um círculo de cogumelos. Quem entrasse em um círculo de fadas em uma lua cheia e fizesse um pedido, o pedido iria se realizar. Mas caso um humano pisasse em um círculo em um dia em que elas estivessem festejando, ele seria feito prisioneiro, obrigado a dançar até a exaustão. O único modo de escapar seria se alguém mantesse o pé bem firme fora do círculo e puxasse a pessoa para fora. Segundo alguns relatos, o anel de fadas seria um portal para o mundo delas. Mas neste caso, a pessoa deveria deixar um pedaço de ferro na entrada, metal a que tinham aversão, pois caso entrasse no mundo das fadas e elas fechassem o portal, a pessoa perderia a noção do tempo, podendo passar uma noite no mundo delas, que equivaleria a anos no mundo mortal.

Relacionamento com os humanos

Existem histórias lendárias por todas as nações contando a relação entre humanos e fadas. Muitas delas contavam que as fadas auxiliavam os humanos com as tarefas domésticas em trocas de moradia, uma cama quentinha e comida. Aparentemente a maioria é aficionada por doces, bolos, geléia, frutas, pães, leite ou derivados e etc.Para pedir a ajuda de um diabrete, uma dona-de-casa deveria deixar uma cesta de maçãs entre as copas das árvores. Um brownie aceitaria fazer qualquer trabalho doméstico, contanto que seja recompensado todas as noites com coalhada e uma fatia de bolo (qualquer recompensa maior seria tomada como uma ofensa, fazendo o brownie ir embora). No entanto, com qualquer tipo de fada, se for recompensada com roupas novas, elas irão embora. Acredita-se que quando o ser humano começou a derrubar as árvores, a sua moradia, elas se zangaram e foram embora.
Poderes das fadas

Acredita-se que o poder mais comum das fadas seja o glamour, um poder que permite que elas assumam qualquer forma, para poder aparecer aos humanos. Tem o dom de ficar invisíveis, de alterar o estado de consciência, de afetar o desenvolvimento das colheitas e de controlar os efeitos atmosféricos. Supostamente conheçem também segredos sobre cura e tesouros ocultos, além de exímia habilidade sobre a arte e a música.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A Fênix; e suas lendas





A Fênix, de Cornelis Troost (1696-1750)

A fênix (do grego Φοῖνιξ, phoínix) era um pássaro sagrado do fogo na mitologia greco-romana, provavelmente inspirada pelo pássaro Bennu, garça divina da mitologia egípcia.

A palavra "fênix" também tem sido usada como tradução de nomes de aves lendárias mais ou menos similares de outras culturas, tais como o pássaro de fogo das lendas russas, a fenghuang chinesa, a hou-ou japonesa e asimurgh da mitologia persa e sufi, à qual também foi atribuída a característica de incendiar-se e renascer.
Os árabes mencionavam ainda a ave cinomolgus, provavelmente derivada da fênix, que construía seus ninhos de canela no alto das árvores. Contava-se que pessoas tentavam jogar pedras ou lançar flechas para derrubar o ninho e apoderar-se da valiosa canela.

Uma lenda também relacionada à fênix é a da ave avalerion, supostamente existente na Índia, da qual haveria um só casal que produziria dois ovos a cada 60 anos. Quando os ovos chocavam, os pais se afogavam voluntariamente.

A Fênix egípcia O pássaro bennu, conforme representações do Novo Império, usando a coroa atef

Originalmente a fênix foi identificada pelos egípcios como uma cegonha ou garça chamada bennu, conhecida de muitos textos egípcios como um dos símbolos sagrados de Heliópolis (cidade chamada Iunu pelos egípcios e Onpelos gregos e na Bíblia), associado com a cheia do Nilo, o Sol nascente e o deus solar Ra e considerado como a “alma” dos deuses Atum, Ra. ou Osíris.

No Livro dos Mortos, o Bennu diz: “Eu sou o pássaro Bennu, o coração-alma de Ra, o guia dos deuses para o Tuat.”. Por representar criação e renovação, estava relacionado ao calendário egípcio e o Templo de Bennu era bem conhecido por seus equipamentos para medir e registrar o tempo.

Alguns dos títulos de Bennu são “Ele que veio a ser por si mesmo,” “O Ascendente,” e “Senhor dos Jubileus Reais”. O nome está relacionado com o verbo weben, que significa “subir brilhando,” or “resplandecer.” Foi também considerado uma manifestação de Osíris ressuscitado e representado empoleirado em um salgueiro, árvore consagrada a esse deus. O planeta Vênus era chamado "estrela do navio de Bennu-Asar" (Asar é o nome egípcio de Osíris).

Segundo o mito egípcio, a Bennu criou a si mesmo de um fogo que queimou em uma árvore sagrada dentro dos limites sagrados do templo de Ra. Outras versões dizem que o pássaro Bennu surgiu das chamas do coração de Osíris. Supunha-se que Bennu descansara em um pilar sagrado que era conhecido como a pedra benben. Os sacerdotes egípcios mostravam esse pilar aos visitantes e o consideravam o lugar mais sagrado da Terra.

O Bennu geralmente era representado como uma garça cinzenta, púrpura, azul ou branca com um bico longo e uma crista formada de duas penas, freqüentemente usando uma coroa atef ou um disco solar sobre a cabeça. Ocasionalmente, era também representada como uma alvéola-dourada, ou como uma águia com penas vermelhas e douradas. Em alguns poucos casos, Bennu era representado como um homem com a cabeça de uma garça, usando um envoltório branco ou azul de múmia, sob um longo casaco transparente.

A imagem original do Bennu pode ter sido modelado na garça cinzenta (Ardea cinera), de até 1 metro de altura, ou na garça golias (Ardea goliath) que, com até 1,5 metro de altura e 2 metros de envergadura, é a maior garça hoje existente e vive na costa do Mar Vermelho.

Encontrou-se ainda os restos de uma garça ainda maior, chamada cientificamente Ardea bennuides (literalmente, Garça Benu) que viveu na região do Golfo Pérsico até cerca de 3000 a.C. e tinha cerca de 1,8 metro de altura e 2,5 metros ou mais de envergadura. Há alguma especulação criptozoológica sobre a possibilidade de essa ave ter sido vista por viajantes egípcios e difundido a lenda de uma enorme garça vista no Egito uma vez a cada 500 anos.

Sugeriu-se também que a inspiração para a fênix egípcia seria o flamingo da África oriental (Phoenicopterus minor), com até 1,05 metro de altura. Essas aves brancas ou rosadas fazem seus ninhos em baixios salgados que são quentes demais para seus ovos ou filhotes sobreviverem; por isso, constroem monte altos e largos o suficiente para suportarem seu ovos em um ambiente um pouco mais fresco. As correntes de convecção em torno desses montes assemelham-se à distância à turbulência de uma chama. Os zoólogos classificam os flamingos na famíliaPhoenicopteridae, a partir do nome genérico Phoenicopterus, ou seja, "asa de fênix".

A Fênix como eclipse solar

Outra possibilidade é que a imagem da fênix tenha sido sugerida pela figura semelhante a um pássaro que a coroa solar pode tomar durante um eclipse total.



Farvahar, símbolo zoroastrista que representa Ahura Mazda e a alma humana





Representação de Ashur, estela assíria

                                                                                                              Sol alado em pyramidionegípcio (pedra que remata o topo de uma pirâmide)

Sol alado hitita

Em 1883, o astrônomo britânico Edward Walter Maunder sugeriu que a origem de Bennu, do "Pássaro do Sol" e de outras aves gigantescas e solares das mitologias egípcia, persa, árabe, indiana e judaica (Hórus, Roca, Garuda, Suparna, Simurgh, Ziz etc.), assim como o olho alado e o disco alado representados na arte egípcia, mesopotâmica e hitita, seria a configuração da coroa solar durante certos eclipses totais do sol, formando um "anel com asas".

O evento é impressionante mesmo para astrônomos modernos, que comparam o "efeito de anel de diamante" dos eclipses totais do sol a clarões de relâmpagos.

A hipótese se baseia na afirmação de historiadores gregos como Heródoto e Diodoro da Sicília, segundo os quais os antigos sacerdotes egípcios tentavam calcular matematicamente a época em que Bennu retornaria. Os conhecimentos astronômicos e astrológicos de mesopotâmicos e egípcios os tornavam capazes de prever os eclipses desde muitos séculos antes de Cristo, de acordo com o ciclo chamado Saros, de 223 meses sinódicos ou 18 anos, 11 dias e 8 horas. Eclipses totais voltam a ser visíveis em uma determinada região a cada 370 anos, em média, extensão de tempo que é comparável com a duração lendária da vida da fênix.

O pássaro original foi provavelmente o disco solar alado e cornudo semelhante a representações egípcias, mas que ganha aparência mais similar a uma ave na iconografia mesopotâmica. Era o sol que voava no céu com suas asas e constantemente era imolado e renascia das cinzas do pôr-do-sol e no nascero do sol. A fênix egípcia foi às vezes identificada com o pássaro bennu, uma garça sagrada a Osíris, que simbolizava tanto a alma humana quanto o ciclo de renascimento ou ressurreição do deus.

O "pássaro solar coronal", como um dos principais avatares do deus-sol, poderia ter também influenciado as crenças religiosas de várias outras civilizações, inclusive as civilizações mesoamericanas, andinas e mississipianas, originando mitos como o do Corvo e o do Pássaro do Trovão (Thunderbird). Também os inuits (esquimós), que também têm mitos sobre um pássaro do Sol.

As "fênices" chinesa (Feng-huang) e japonesa (Hou-ou) também poderiam estar relacionadas a esse "pássaro solar" que pode surgir nos céus durante a espetacular "morte" e "renascimento" do sol durante um eclipse solar.

Várias divindades foram associadas pela arte com um disco solar alado, incluindo o deus supremo dos assírios, Ashur.

A imagem retomada pela religião zoroastrista da Pérsia para representar Ahura Mazda, no símbolo conhecido como farohar ou faravahar, que representa o espírito humano que existiu antes do nascimento e continuará a existir após a morte.

Também o ankh egípcio e a coroa atef (usada por Osíris e baseada na coroa hedjet, símbolo do Alto Egito, acrescida de plumas de avestruz), poderiam ser sugeridas por certas configurações da coroa solar, como a representada na "Astronomia Popular" de Camille Flammarion.

A Fênix entre gregos e romanos

Os gregos adaptaram a palavra bennu (e seu significado egípcio associado de "tamareira") e a identificaram com sua palavra φοίνιξ, phoinix, "vermelho-púrpura" ou "carmim". Gregos e romanos a representaram semelhante a um pavão ou águia. Segundo Plínio, o Velho, era do tamanho de uma águia, com plumagem dourada em torno do pescoço, corpo vermelho e cauda azul. Tinha uma barbela na garganta e um tufo de penas na cabeça.

Segundo os gregos, a fênix vivia na Fenícia, perto de uma nascente. De manhã, ela tomava banho na água da nascente e o deus-sol, Hélios ou Apolo, detinha seu carro para ouvir sua canção. Tinha uma bela plumagem vermelha e dourada e no final de seu ciclo de vida (geralmente descrito como de 500 anos, às vezes 540, 1.000, 1.460 o mesmo 12.994 anos) fazia para si mesmo um ninho de canela ou outras plantas aromáticas e o acende. Tanto o ninho quanto a ave queimavam rapidamente e eram reduzidos a cinzas, das quais nascia uma nova fênix, que viveria tanto quanto a antiga.

Em algumas versões, a nova fênix embalsama as cinzas da velha em um ovo feito de mirra e o deposita na cidade egípcia de Heliópolis. Diz-se também que a ave regenera-se quando ferida por um inimigo, sendo portanto quase imortal e invencível - um símbolo de fogo e divindade.

                                           Fênix, ilustração em Bestiary: An Illuminated Alphabet of Medieval Beasts, de Jonathan Hunt (1998)

 
Fênix, representação heráldica

A Fênix em bestiário medieval (Durham, Inglaterra c. 1200-1210)


Em Heródoto:Existe outro pássaro sagrado, também, cujo nome é fênix. Eu mesmo nunca o vi, apenas figuras dele. O pássaro raramente vem ao Egito, uma vez a cada cinco séculos, segundo povo de Heliópolis. É dito que a fênix vem quando seu pai morre. Se o retrato mostra verdadeiramente seu tamanho e aparência, sua plumagem é em parte dourada e em parte vermelha. É parecido com uma águia em sua forma e tamanho. O que dizem que este pássaro é capaz de fazer é incrível para mim. Voa da Árabia para o templo de Hélios, dizem, ele encerra seu pai em um ovo de mirra e enterra-o no templo de Hélios. Isto é como dizem: primeiramente molda um ovo de mirra tão pesado quanto pode carregar, então abre cavidades no ovo e coloca os restos de seu pai nele, selando o ovo. E dizem, ele encerra o ovo no templo do Sol no Egito.

Para Apolônio de Tiana:A fênix é o pássaro que visita o Egito a cada cinco séculos, mas no resto do tempo ela voa até a Índia; e lá podem ser visto os raios de luz solar que brilham como ouro. Em tamanho e aparência assemelha-se a uma águia; e senta-se em um ninho; que é feito por ele nas primaveras do Nilo. A história do Egito sobre ele é testificada pelos indianos também, mas os últimos acrescentam que a fênix, enquanto é consumida pelo fogo em seu ninho, canta para si canções fúnebres.

Segundo Ovídio:Estas criaturas (outras raças de pássaros) todas descendem de seus primeiros, de outros de seu tipo. Mas um sozinho, um pássaro, renova e renasce dele mesmo - a Fénix da Assíria, que se alimenta não de sementes ou folhas verdes mas de óleos de bálsamo e gotas de olíbano. Este pássaro, quando os cinco longos séculos de vida já se passaram, cria um ninho em uma palmeira elevada; e as linhas do ninho com cássia, mirra dourados e pedaços de canela, estabelecida lá, inflama-se, rodeada de perfumes, termina a extensão de sua vida. Então do corpo de seu pai renasce uma pequena Fénix, como se diz, para viver os mesmos longos anos. Quando o tempo reconstrói sua força ao poder de suportar seu próprio peso, levanta o ninho - o ninho que é berço seu e túmulo de seu pai - como imposição do amor e do dever, dessa palma alta e carrega-o através dos céus até alcançar a grande cidade do Sol (Heliópolis, no Egito), e perante as portas do sagrado templo do Sol, sepulta-o.




Fênix no Bestiário de Aberdeen (século XII)

A Fênix e o cristianismo

A ressurreição periódica da fênix de suas cinzas foi freqüentemente citada por autoridades da Igreja como prova da ressurreição geral dos mortos. Em 386 d.C., Cirilo de Jerusalém afirmou que Deus criou a fênix para ajudar os homens a acreditar na ressurreição de Cristo.

Antigos autores cristãos justificaram o uso da fênix em sua simbologia pelo Salmo 92:Os justos florescerão como a palmeira (fênix, na Septuaginta, tradução para o grego), crescerão como o cedro no Líbano. Estão plantados na casa do Senhor, florescerão nos átrios do nosso Deus (...)

Embora o texto se refira, na verdade, à palmeira ou tamareira (Phoenix dactylifera). Já o versículo de Jó 29:18 que gerou muitas interpretações judaico-cristãs no século XVII, usa a palavra hebraica chol que, conforme a tradução, foi interpretada como "fênix", "palmeira" (na Vulgata) ou "areia" (na versão do Rei James, provavelmente mais correta neste ponto):Eu dizia: Morrerei em meu ninho, meus dias serão tão numerosos quanto os da fênix (chol).

O sentido usual de chol (חול) em hebraico é "areia". A interpretação como "fênix" (que, na tradição judaica, vive mil anos) deve-se a uma tradição repetida pelo rabino francês Shelomo Yitzhaki, do século XI, provavelmente influenciada pela presença da palavra "ninho". A outra tradução deve-se à ambigüidade da palavra grega phoinix, que significa tanto "palmeira quanto "fênix": segundo a tradição, a fênix fazia seu ninho na palmeira.

Ainda que as descrições variem, o significado da fênix nos bestiários é geralmente a de símbolo de Cristo e de sua ressurreição, imortalidade e vida após a morte.

A Fênix islâmica

O cosmógrafo Al-Qaswini, em sua obra Maravilhas da Criação, afirmou que oSimorg Anka vive por 1.700 anos e que, quando seu filho chega à idade adulta, o pai queima a si mesmo em uma pira funerária. Essa imagem dosimurgh foi claramente influenciada pela fênix e é a ela que se refere o poeta persa sufi Farid ad-Din Attar, em A Conferência dos Pássaros, de 1177:

Na Índia vive um pássaro que é único: a encantadora fênix tem um bico extraordinariamente longo e muito duro, perfurado com uma centena de orifícios, como uma flauta. Não tem fêmea, vive isolada e seu reinado é absoluto. Cada abertura em seu bico produz um som diferente, e cada um desses sons revela um segredo particular, sutil e profundo.

Quando ela faz ouvir essas notas plangentes, os pássaros e os peixes agitam-se, as bestas mais ferozes entram em êxtase; depois todos silenciam. Foi desse canto que um sábio aprendeu a ciência da música.

A fênix vive cerca de mil anos e conhece de antemão a hora de sua morte. Quando ela sente aproximar-se o momento de retirar o seu coração do mundo, e todos os indícios lhe confirmam que deve partir, constrói uma pira reunindo ao redor de si lenha e folhas de palmeira. Em meio a essas folhas entoa tristes melodias, e cada nota lamentosa que emite é uma evidência de sua alma imaculada. Enquanto canta, a amarga dor da morte penetra seu íntimo e ela treme como uma folha. Todos os pássaros e animais são atraídos por seu canto, que soa agora como as trombetas do Último Dia; todos aproximam-se para assistir o espetáculo de sua morte, e, por seu exemplo, cada um deles determina-se a deixar o mundo para trás e resigna-se a morrer.

De fato, nesse dia um grande número de animais morre com o coração ensanguentado diante da fênix, por causa da tristeza de que a veem presa. É um dia extraordinário: alguns soluçam em simpatia, outros perdem os sentidos, outros ainda morrem ao ouvir seu lamento apaixonado. Quando lhe resta apenas um sopro de vida, a fênix bate suas asas e agita suas plumas, e deste movimento produz-se um fogo que transforma seu estado. Este fogo espalha-se rapidamente para folhagens e madeira, que ardem agradavelmente. Breve, madeira e pássaro tornam-se brasas vivas, e então cinzas. Porém, quando a pira foi consumida e a última centelha se extingue, uma pequena fênix desperta do leito de cinzas.

Aconteceu alguma vez a alguém deste mundo renascer depois da morte? Mesmo que te fosse concedida uma vida tão longa quanto a da fênix, terias de morrer quando a medida de tua vida fosse preenchida. A fênix permaneceu por mil anos completamente só, no lamento e na dor, sem companheira nem progenitora. Não contraiu laços com ninguém neste mundo, nenhuma criança alegrou sua idade e, ao final de sua vida, quando teve de deixar de existir, lançou suas cinzas ao vento, a fim de que saibas que ninguém pode escapar à morte, não importa que astúcia empregue. Em todo o mundo não há ninguém que não morra. Sabe, pelo milagre da fênix, que ninguém tem abrigo contra a morte. Ainda que a morte seja dura e tirânica, é preciso conviver com ela, e embora muitas provações caiam sobre nós, a morte permanece a mais dura prova que o Caminho nos exigirá.

referencia ;
http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/F%C3%AAnix